Quero morrer, meu Senhor!
Morrer de morte morrida!
Morte bem morridinha: egocida...
Quando vierem lembranças,
Ofensas, decepções,
Não quero que o Eu se levante:
Quero que morra o falante,
Que pare de reclamar.
Quero morrer, meu Senhor,
Morrer a morte morrida,
Que só Tu sabes doída
No fundo do coração.
Meu senso é querer respirar,
Meu Ego quer ressuscitar
(Não aceita viver morto-vivo)...
Mas, preciso, de novo, perdoar,
Desconsiderar, esquecer, apagar...
Perdoar é uma morte escolhida.
Quero pisar torcida que fumega,
Esfregá-la no pó com raivura,
Quando a corda queimante sou Eu.
Desatar nós, encerrar questões,
Morrer e pronto!
Assumir a culpa, receber a multa.
Quem morre não cobra... nem paga.
"Se o grão de trigo não morrer,
Fica ele só".
Mas se morrer, revive pra outra vida
Que brota da morte sentida,
Mas morte matada e vencida.
Para Jonas Fernandes. Cidade Jardim, 13/08/2016